Verdade seja dita: ela entregou-se!

Os seus cabelos estendiam-se ao longo das suas costas e cobriam-lhe a face escura. Os postigos estavam fechados, fazia-se tarde a ultima vez que alguém os abrira, mas isso não impedia o sol, de dia após dia os transparecer. As ruas, do outro lado das duas grandes portas de madeira, estavam abandonadas e nada se movimentava, nem mesmo as nuvens. O seu corpo havia sido confiado à parede mal caiada e não tardou a ser albergado no xadrez frio, do chão de azulejos. Ninguém sabia ao certo se chorava, num choro taciturno, ou se cantarolava para ela. O silêncio impedia-nos de escutar o bater do seu coração ou talvez, ela nem tivesse coração! «De que espera ela?» perguntavam curiosidades alheias. Era audácia a mais responder que talvez ela nem esperasse, talvez ela apenas descansasse. Tudo o que sabia, ou pelo menos, se ouvia dizer, era que ela já não estava ali, mas a verdade, essa ninguém sabia e ousasse quem dissesse o contrário...